Reservatório João Leite: crise de água é crise de democracia
Tomando cada vez mais forma, o caso da expansão urbana ao redor do João Leite já se transformou em um movimento ideológico, onde diversos meios de comunicação, entidades representativas e profissionais passaram a defender a área que necessita ser preservada.
Em 2009 a Amarbrasil entrou com ação civil coletiva contra o setor imobiliário que tentava lotear as margens à véspera do fechamento das comportas da barragem. Com a Ação, a Amarbrasil conseguiu a construção das barreiras de proteção e dos filtros de captação da água da rodovia que eram despejados diretamente no reservatório. O jornal Diário da Manhã deu ampla cobertura a esta ação, movimentando a comunidade em defesa da água.
Já no início de junho deste ano, a Amarbrasil alertou sobre a redução do Parque Serra Dourada, que fere a democracia e o direito da população em participar de decisões de tamanho impacto. De lá pra cá, foram diversas as notícias e notas da Amarbrasil sobre a situação do Reservatório João Leite e o risco que o mesmo corre. Poucos deram ouvidos, e agora, a situação é explícita.
Com a atual cobertura jornalística nacional, o assunto “falta de água” se tornou pauta em todos os cantos, aí sim, a mídia goiana começou a olhar pra dentro, ao invés de pra fora. Não foi falta da Amarbrasil citar e incentivar discussões sobre Água Pública tanto no site como nas mídias sociais. Avisamos, e a situação agora é complexa.
O Sindicato dos Engenheiros no Estado de Goiás – Senge-GO lançou uma nota não só desaprovando com alertando sobre os perigos de se liberar espaço que hoje é de reserva para construção de loteamentos e comércios. O Senge-GO inclusive alertou sobre tal situação ser um atentado contra a democracia “a sociedade goiana precisa saber e se colocar contra mais esta tentativa de manipulação da opinião pública a respeito de um recurso tão escasso hoje, quanto a água, que só tende a agravar-se no futuro” (trecho da nota).
O jornalista Washington Novaes, no jornal O Popular foi além, narrando em primeira pessoa diversas reuniões onde recebeu informações que comprovam que tal redução irá comprometer o abastecimento de água em Goiânia. Confira o trecho do artigo que se encontra na íntegra no site do O Popular:
“O autor destas linhas esteve presente à sessão pública em que o prof. Tundisi, catedrático da Universidade em São Carlos, SP, apresentou seu parecer contundente, após visitar toda a bacia do João Leite. Já mencionava ele a existência, em vários municípios, de lixões a céu aberto, com o escorrimento de chorume tóxico; o forte desmatamento em toda a APA, inclusive em matas ciliares; o desmatamento gerado por novas lavouras e pastagens, que levavam à impermeabilização do solo e redução do acúmulo de água no subsolo do Cerrado – onde nascem os rios; a contaminação das terras (e sua chegada à água) por alto volume de agrotóxicos. Concluía o prof. Tundisi mostrando que, se nada fosse feito para mudar o quadro, a água dali destinada a abastecimento humano teria um custo de tratamento até cinco vezes maior que o habitual.”
Também trazendo para discussão a opinião pública e a irresponsabilidade mediante uma ação visivelmente tão degradante ao abastecimento de água, cita:
“É preocupante e deprimente ver a expansão urbana em tantos lugares – inclusive em Goiânia – atropelar advertências da ONU, do papa, de tantos relatórios que mostram o crescimento desordenado das cidades em toda parte – e os problemas que já representam, com mais de 50% da população global de mais de 7 bilhões de pessoas. E tudo na hora em que água ocupa o centro de tantos dramas, inclusive aqui.”
Não faz nenhum sentido manter os planos de degradação do João Leite. Decidir tomar parte de área preservada para interesses particulares já é irrelevante, agora imagine quando isso ameaça os recursos naturais. Falta de informação? Inocência? Qual a desculpa que justifica esta situação? Não vamos esperar o pior acontecer, o Brasil necessita urgentemente fazer valer a Democracia Participativa.
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Foto: Diário da Manhã 15 de março de 2010
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